domingo, 22 de janeiro de 2012

A REVOLUÇÃO CUBANA

Eduardo Galeano, 14 de janeiro de 2012

Eu tinha 12 anos quando do assalto ao Quartel Moncada, dezesseis quando do desembarque do Granma, dezoito quando os guerrilheiros entraram, vitoriosos, em Havana. Os homens de minha geração temos tido a sorte de coincidir, no tempo, com a Revolução Cubana. Desde cedo nos misturou a vida e penetrou em nossa alma. Junto a muitos milhões de homens, celebro esta revolução como se fosse minha.

Ela tem me transmitido forças quando sinto perder-las. Tem-me contagiado de energia dia após dia, ano após ano, ao largo do processo que a pôs a salvo da derrota e da traição. Cuba quebrou em pedaços a estrutura da injustiça e confirmou que a exploração de umas classes sociais por outras e de uns países por outros não é o resultado de uma tendência “natural” da condição humana nem está implícita na harmonia do universo. Muitas muralhas se têm sido transpostas por este vento bom de fúria popular.

A colônia se fez pátria e os trabalhadores, donos de seu destino. A mulher deixou de ser uma passiva cidadã de segunda classe. Se acabou o desenvolvimento desigual que em toda América Latina castiga o campo, ao tempo que empurra os seus para umas poucas cidades babilônicas e parasitária. Apagou-se a fronteira que separa o trabalho intelectual do trabalho manual, resultado das tradicionais mutilações que nos reduzem a uma só dimensão e nos fratura a consciência.

Não tem descanso esta proeza, nem sido linear o seu caminho. Quando são verdadeiras, as revoluções se fazem sob as condições possíveis. Em um mundo que não admite arcas de Noé, Cuba tem criado uma sociedade solidária a um passo do centro do sistema inimigo. Em todo este tempo, eu tenho amado muito a esta Revolução. E não só em seus acertos, o que é fácil, mas também em seus tropeços e em suas contradições.

Também em seus erros me reconheço: este processo tem sido realizado por gentes sensíveis, de carne e osso, e não por heróis de bronze nem máquinas infalíveis. A Revolução Cubana me tem proporcionado uma incessante fonte de esperanças. Estas mais poderosas do que as dúvidas e os reparos. Novas gerações educadas para a participação e não para o egoísmo, para a criação e não para o consumo, para a solidariedade e não para a competição. Nela está, mais forte do que qualquer desalento, a prova viva de que a luta pela dignidade humana não é uma pura paixão inútil, e a demonstração, palpável e cotidiana, de que o mundo novo pode ser construído na realidade e não só na imaginação dos profetas.

Revista Casa de las Américas (No. 111, nov.-dic. de 1978, pp. 104-105)

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